segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Partidos


Não vivo de Partidos
Vivo inteiramente de inteiros
sou um peixe fora d'água,
morrendo afogada
buscando o ar
para entender tanta discussão
para se chegar a um acordo
Sou dos acordos
que promovam mudanças
e se concretizam
pelo desejo comum
de sair do lodo social
Não gosto de capturar
palavras laçadas ao vento
porque elas perdem a força e a concordância
Preciso de palavras simples e fortes
que me convençam
e não me façam perder meu tempo precioso
As pessoas criam regras e cláusulas
e nelas se perdem
Falam bonito
com a segurança de doutores
mas não atingem
as massas que precisam
de saberes mastigados
dissolvidos em ações reais
Quanto tempo se perde
com dizeres contraditórios
que na maioria das vezes
não têm objetivo algum
a não ser o de aumentar
a discussão sobre o nada, do nada e pra nada
Quero a minha simplicidade
misturada com outras tantas simplicidades
para aumentar a grandiosidade do fazer
O fazer não precisa de texto ou estatuto
Precisa de coração aberto
e mangas arregaçadas
Precisa de amor ao próximo
ao distante que nunca é alcançado
Quero botar a minha mão no fogo
e assar o pão que mata a fome
Quero ferir minha mão na pedra
se dela puder fazer brotar água
para matar a sede deste povo
que é sempre tão lembrado
em versos e prosas
mas que continua carente, abandonado
rejeitado e sozinho
não quero ser Partido
para estar partida
Quero estar inteira, completa
para não desintegrar
quando quiser compartilhar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Segredo

Penso em você em segredo
às escondidas te busco
pelos becos e atalhos,
seguindo o teu cheiro
ouvindo o teu pulsar...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Literatura

Só vou falar com você
através da minha literatura
porque minhas palavras de gente grande
aprisionam meus melhores sentimentos
Vou te fazer sentir cheiro de mato
ouvir canto de passarinho
e olhar o mar devorando sua areia
em beijos molhados e febris
E vou deixar vazarem do meu coração
a canção e a poesia
que você escreveu em mim

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Reflexo

Nas linhas da minha fantasia
desenho milimetricamente teu corpo
percorrendo cada canto
cada encanto
e sinto em mim refletido
o teu contato aglutinado
que joga na pele
o cheiro do afago
e deixa a boca salivando
desejos e sabores

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Aguando

Com o coração aguando
Sedento, suplicante
Balbucio letras
Desconexas e vadias
Engulo dizeres e sabedorias
Que ruminados
Vão criando textos
Canções e poesias
Com a vã finalidade
De te alcançar por dentro
No peito
Nos rasgos do coração
Você exposto em prateleiras inalcançáveis
Alheio e distante
Me olha sem me ver
Perdido na imensidão
Do teu próprio sentido de vida
Caminho arrastada
Esgotada, perdida
Paralisada pela urgência do meu querer
Febril e entorpecido
Sem anúncio de novos caminhos
Tão gritados
Tão necessários
Para arrebentar os grilhões
Que paralisam o meu caminhar

domingo, 24 de julho de 2011

Ilusão

E o que há para ser chorado
Que já não tenha sido derramado
Em plena multidão?
E o que há para ser lembrado
Que já não tenha sido desprezado
Na dor cruel da separação?
Então, o que há para ser esquecido
Que conserva o fogo eterno
No meu coração?
São perguntas sem respostas
Doce ilusão.

terça-feira, 21 de junho de 2011

De perto

Pude te ver melhor
de perto
com a boca
troquei com você
sentimentos e saudade
que palavra nenhuma
poderia alcançar

Terras secas

Estou na fase de terras secas
e rios estreitos
As palavras gritam dentro de mim
se combinam em múltiplas formas e cores
revolvem minhas fragilidades
e sacodem meu corpo por inteiro
Brincando com a minha agonia
protestam e se deixam estar
imobilizadas e arredias
Camufladas nas dobras e rasgos do coração
escorrem ácidas e ferventes
manchando o papel cru
sem vestígios dos sentimentos ou encantamentos
que tomam conta de mim

Dói

Dói como queimadura de cigarro
Rasgando a pele
Anestesia pelo álcool

Dói como picada
de agulha enferrujada
Conduzindo a droga maldita
Ao topo da cabeça

Dói doído
Doloroso dolorido

Dói e não passa
Me arrasta
Descompassa

Dói como cio de cadela
Trancada no fundo do quintal

Dói como o último gole
Que o corpo rejeita
E devolve

Dói por dentro
Queimando o estômago
Arranhando a garganta

Ai, como dói
A tua ausência

Menino encantado - para o Touché

Não é encantado
só porque encanta
Mas é encantado
porque sabe encantar
mesmo que às vezes traga
tanto desencanto no olhar.

Saudade

Saudade é coisa perdida
que tempo nunca mais traz
mas também é esperança
sentada na beira do cais

Meu olhar

O meu olhar vazio
Cansado, ardido
Te adivinhando nas paredes brancas
Onde você aparece
Meigo e menino
É o flagrante da tua presença em mim
Às vezes aflito
Te persegue
Quando te perde
No ir-e-vir do pensamento
Calmo e brilhante
Brinca com as lembranças
Que de tão fortes
Escorrem salientes
E me encharcam de saudades
Na rua te procura
Nos olhares que com ele cruzam
Mais tarde
Ele, o meu olhar
Já bandeira de sono
Continua te buscando
Nas paredes alvas e frias
Como se tivesse medo de dormir
E nunca mais te encontrar

Fragilidade

Uma ligação
uma palavra mal colocada
um hiato
um ruído
o silêncio
e o conflito inteiro vem à tona
trazendo dores antigas
sedimentadas
nos rasgos do coração

Tempestade

Onde há melancolia
há um coração morrendo afogado
Onde há esperança
há um coração lutando para se salvar
Onde há amor
há um coração feliz e sossegado
Onde estou
chove torrencialmente

Contra

Lutando contra
já é luta a favor
Meio na bronca
já declaro o meu amor
Ainda tonta
eu salivo o teu sabor
De ponta a ponta
vou sentindo o teu calor
No fim das contas
solidão e muita dor

Silêncio

Será que você sofre
O sofrimento
Que sofro intensamente?

Será que há troca
No silêncio que angustia
Da minha energia com a tua?

Em quem você pensa neste momento
Quando só há você no meu pensamento
E um profundo lamento
pede pra você voltar?

Homem

Gosto de me sentir sozinha
Nestas horas desligo os controles da mente
E deixo o meu pensamento fluir livremente
Evitar pensar no que passou
E só deixou mágoas, seria o ideal
Encher a cabeça com novas idéias e planos
Nos ajuda a juntar os cacos do coração
Mas pensar seriamente sobre o que foi negativo
Faz-nos mais fortes e melhores
Porque é a dor a dose de fortificante
Que a alma mutilada necessita.
A dor amansa e humaniza
A dor reanima e cura o coração
Despedaçado e infeliz
Quando o peito tira o luto e vai à luta
Se descobre puro e sem ressentimento
Esgotar a dor de uma vez por todas
No lugar de sofrer aos poucos e eternamente
Por isso penso em você agora
Deixo-o passear sem correntes repressoras
Dentro de mim
E você me percorre
E por meus poros escorre
Toda a impureza que a sua presença covarde
Depositou em minhas entranhas
Não te amo mais
Se verdadeiramente te amei um dia
Não te quero mais
Impregnando com seu cheiro adocicado
Os meus lençóis
Não te quero mais relaxado colado ao meu corpo
Quero-te longe
Quero-te inamigo
Porque preciso de um verdadeiro homem
Para dormir comigo.

Próximo ato

Vem depressa
Se te interessa
Viver essa peça
Da nossa paixão

Vem largado
Arfando, suado
Com o corpo vibrando
De amor e tesão

Mas vem sem demora
O instante é agora...
Porque no próximo ato
Com certeza
Não contraceno com você

Sensação

Ah, imensidão isolada de tudo
O que paralisa o meu sentir
Ah, sensação de inutilmente
Querer o teu sentir
Ah, impressão de estar
Apenas por não partir
Ah, coração
A ponto de explodir

domingo, 12 de junho de 2011

Sentido

Você calou a boca
da tua literatura em mim
e todos os meus dizeres
perderam o sentido
e a boba mania de esticar sentimentos
e derramar tinta
nas coisas desbotadas do mundo
Então, escureci

Vulcão

Na madrugada fria
de nevoeiro intenso
e chuva fina
meu corpo geme
num ritmo orquestrado
pela tua mão
que desperta vulcões
e ampara a lava
que goteja candente de mim
A lingua quente
na boca molhada e arfante
percorre atalhos e becos
explorando áreas
de explosões vulcânicas
Os corpos misturados em quenturas
desejos e delícias
esquecem frios e impossibilidades
e se perdem e se encontram
em sabores e cheiros
no momento mágico
de entrega e de fartas juras de amor.

Indivisível

Você está vivo
múltiplo e indivisível
em cada milímetro de mim

Você

No meu pensar você
Meu corpo ressente
reminiscente
pontadas pungentes
em todas a sua extensão
O desenho de tua boca carnuda
aguando meus caminhos e curvas
acende em mim febres e delírios
Tua mão
nas dobraduras do meu te sentir por dentro
arrasta ondas e calafrios
Ensurdecida pelas letras do teu nome
que se espatifam na ardência do meu corpo
chego ao topo do meu te querer
umedecida e esgotada
doida para te amar novamente

Recomeço

Nos braços
um abraço destronado
Na boca
palavras incontidas
palavrões
No peito
uma certeza nasce
já é madrugada
é preciso recomeçar

Te borboletando

Borboleta cega
Em vôo errante
buscando o contato
com a flor que excita
e alimenta sonhos e fantasias
É assim que me sinto
quando toco em você...

Te poemar

Quero te poemar todo
com a boca
com as mãos
recolher cada letra
que vai brotando do teu desejo à flor da pele
e te rimar com meu corpo em brasas
Toda vez que penso em você
Uma alegria
surda e escandalosa
Toma conta de mim

Fantasma

Você surge do passado
Vem sem avisar
Me deixa paralisada
Tonta
Sem saída
E a única solução
É te amar

Paixão

Você passa
Me embaraça
Me descompassa o coração

Você sorri
Me faz sentir
Se vacilar
Perco a razão

Você seduz
E me induz
A suportar a solidão

Você reluz
E me conduz
Pelas vias ardentes
Da paixão

Última gota

Transbordei inteira
sem eira nem beira
Fazendo qualquer besteira
Para te ter em mim

Transbordei suave
Sentindo cada gota
Que de mim escorria

Transbordei sofrida
Abrindo a ferida
Do me dar sem limites
sem palpite
Sem alpiste
Para alimentar meu vôo

Tuas coisas

Faço literatura
porque não sei
fazer outra rima
com as tuas coisas
que escorrem de mim
Um copo na mão
um papel em branco
e um coração lotado
de coisas para dizer

Borboleta

Hoje eu vou dormir larva
aprisionada nas fibras
do coração em agonia
Mas desejo acordar borboleta
em pleno salto mortal
para a vida

Energia

O que emerge de mim
Quando penso em você
Que não é um retorno ao passado
nem um mergulho no futuro?
De onde surgem os elementos
Que se articulam
De várias formas e cores
E me inundam de sensações e pensamentos
Que são dirigidos a você
Fazendo com que uma energia em ebulição
Me suba por entre as pernas
E encharque o meu coração
Desesperadamente vazio
E paradoxalmente
Repleto de você

Sem limites

Tudo em mim pulsa
Arrebentando o limite
Da minha adequação

Eu por você
transbordo de significados
Através da boca que queima
E do peito que arfa

É o momento da conivência
Com o lado que limita
Que se deixa dominar
por tudo que excita

Queria te ver agora
Nesse exato momento
E te devorar
Com a minha saudade

Vibração

Já não respiro sem sentir a vibração
dos fonemas do teu nome
dentro de mim
Quando te inspiro
a força da tua presença
aperta a minha garganta e
vasculha minhas entranhas
arfando, meio tonta
deliro ardendo de saudade
solto o ar lentamente
com medo de perder
qualquer preciosa nota
da música que você toca em mim

Alagamento

Sentimentos abertos no peito
sem colas ou dobraduras
Possibilidades arranhadas, negadas
no topo do meu desejo premente
Amor vazando e alagando a boca aquecida
pela investida de línguas estrangeiras
A crueza do carinho perdido
em promessas esquecidas
percorre o corpo suado
e paralisa minhas pequenas explosões de você
no auge da minha entrega desvairada
Respirar fundo recuperando o fôlego
Suavizar os sentidos
e amansar o coração
permitindo que a mão da lucidez
te conduza para o mundo
das minhas fantasias ordinárias e indecentes
E por não saber fazer diferente
começar tudo outra vez
só para te maltratar
só para te fazer sofrer.

Sentidos e sussurros

Deixa eu sugar
a doçura que da tua boca escorre
e encharca a tua roupa amarrotada
de tanto me amassar
Deixa eu adivinhar o desenho do teu corpo
com a minha mão suada e quente
de tanto te desbravar
Deixa que eu saia do texto, do contexto
na multiplicidade do chegar ao topo
do meu te assanhar
percorrendo milimetricamente
o canal que escoa
a minha fina garoa
do teu me provocar
Recuperando suave os sentidos
sussurra baixinho no ouvido
que adorou me amar

Um tempo

Vai levar um tempo
para juntar os lamentos
e os pedaços de sonhos
que a vida sempre tenta
arrancar de mim

Vai levar um caminho
para virar a página
de mais uma história
não contada

Vai levar mais um sol
para eu enxergar a lua
dos meus desejos de estrelas

Vai levar um rio
para eu extravasar os mares
do que tinha para chorar
e não chorei

Vai levar retalhos de minuto
para eu rasgar tanto discurso
quando você abrir aquela porta
e me pedir para voltar.

Sede

A minha boca seca
pela sede da tua
exige que tu me devores
com teus beijos quentes e indecentes